Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: CORREIO DA TARDE
Data da notícia: 13-03-1903
Ano:
Número: nº XX
Dia da semana: Sexta-feira
Página: 2
Coluna: XXXXXX
Caderno:
Manchete: CARNAVAL
Texto:
No salão do Clube Caxeiral, a Rua Conselheiro Pedro Luiz, às 7 horas da noite de hoje, reunirá o festejado e popular Clube Carnavalesco Cruz Vermelha, no sentido da eleição da diretoria a funcionar de 1903 a 1904.
Antes desta medida, o Clube, acompanhado por seus adeptos e admiradores, tendo à frente a banda de música do 1o corpo da brigada policial, irá à casa do Sr. capitão Manuel Gomes Ribeiro, à rua do fogo, buscar o estandarte, que ficará presente na reunião.
Terminada esta, organiza-se-á bonita passeata, que irá percorrer diversas das principais ruas desta capital.
Ao convite que nos trouxe gentil comissão de aplau (aplaudido?)_Clube para assistimos à referida reunião, como tomarmos parte na passeata, que, atentar as simpatias e apreço do que goza o mesmo no seio do público Baiano, será esplendida, confessamo-nos sumamente gratos.
¬_O deslumbrante Clube Carnavalesco Fantoches da Euterpe reunirá hoje às 7 ½ horas da noite, para ato na posse da direção, comparecendo a abrilhantá-lo o festejado grupo musical Amantes da Euterpe.
.. ..
Por tão auspiciosos prenúncios o Carnaval de 1904 não será a característica de deponentes exibições da África selvagem.
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: CORREIO DA TARDE
Data da notícia: 23-03-1903
Ano:
Número: nº XX
Dia da semana: Segunda-feira
Página: 2
Coluna: XXXXXX
Caderno:
Manchete: CARNAVAL “EMBAIXADA AFRICANA.”
Texto:
Luzido e esplêndido clube Carnavalesco que ainda conserva vivamente a ótima impressão do seu aparecimento nesta Capital nos lembrados tempos em que nesta festa da loucura não desceu a perversão do gosto e da crítica. Do secretario da Embaixada, fineza que aqui se registre agradecida, recebemos a seguinte comunicação:
Ilmos. Srs.:
De ordem do Sr. Presidente, o Phasola, tenho a honra de levar ao conhecimento desta ilustrada redação que, em o nosso Consulado, no dia 8 do corrente mês foi eleito e empossado o governo da “Embaixada Africana” para o exercício de 1903 a 1904.
Outrossim, comunico-vos que tendo chegado a toda região africana a notícia da grande festa que nesta Capital promovem ao Deus Momo, foi levantada em toda a África a idéia da reunião de um congresso, em dias do mês próximo, no qual tomarão parte todos os imperantes e seus ministros, com o fim de mandar a esta Cidade uma embaixada digna das festas que aqui vão ser celebradas.
Ò congresso reunir-se-á em uma mesquita na Algéria, sob a presidência de honra do imperador nos meses de Fevereiro ou Março vindouro e a ela acompanham ricos presentes para o público desta Cidade.
Eis, senhores redatores, o que consta nesta Chancelaria.
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: CORREIO DA TARDE
Data da notícia: 08-04-1903
Ano:
Número: nº XX
Dia da semana: Quarta-feira
Página: 1
Coluna: Notícias Diversas
Caderno:
Manchete: CARNAVAL
Texto:
O festejado “Clube Carnavalesco Embaixada Africana” promove, para o Sábado da aleluia, uma reunião intima entre seus associados e suas famílias, nos salões do Teatro São João a qual promete ser magnífica.
Agradecimentos penhorados, à esforçada direção do simpatizado “clube” o convite que, para essa festa, teve a gentileza de nos mandar, fazendo votos para que ela se realize com todo o brilhantismo.
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: CORREIO DA TARDE
Data da notícia: 14-04-1903
Ano:
Número: nº XX
Dia da semana: Terça-feira
Página: 2
Coluna: XXXXXX
Caderno:
Manchete: CARNAVAL
Texto:
Prenuncio de que serão as festas Carnavalescas de 1904, muito animadas, estiveram as passeatas que diversos clubes efetuaram no Sábado de Aleluia, salientando-se os Fantoches da Euterpe e Inocentes em Progresso, que foram calorosamente aplaudidos.
Esteve revestido da máxima importância o baile realizado pelo aplaudido Clube Carnavalesco Embaixada Africana.
Aos salões do Teatro S. João, ornamentados com muito de sócios e adeptos do festejado clube, prolongando-se as danças até a madrugada.
A Embaixada enviamos sinceras felicitações pela sua magnífica festa.
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: CORREIO DA TARDE
Data da notícia: 20-03-1903
Ano: Ano: XXIX
Número: nº 5
Dia da semana: Sexta-feira
Página: 1
Coluna: 5
Caderno:
Manchete: EMBAIXADA AFRICANA
Texto:
Esse divertido clube Carnavalesco participou-nos que, em data de 8 corrente, foi eleita e empossada a sua diretoria, para o Ano de 1903 a 1904.
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: JORNAL DE NOTÍCIAS
Data da notícia: 09-05-1903
Ano: Ano: XXIV
Número: nº 6977
Dia da semana:
Página: 3
Coluna: Anúncios Especiais
Caderno:
Manchete:
Texto:
RESUMO: Nota de agradecimento do Clube Carnavalesco Cruz Vermelha a diversos grupos que foram a sua festa beneficente, em 1º de maio, realizada no Politeama Baiano, dentre os quais, o Clube Carnavalesco Embaixada Africana, através da presença da sua diretoria.
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: CORREIO DO BRASIL
Data da notícia: 17-02-1904
Ano:
Número: nº XX
Dia da semana: Quarta-feira
Página: XX
Coluna: XX
Caderno:
Manchete: O DEUS MOMO
Texto:
Bem o dissemos em edição anterior: preparem-se todos para assistirem deslumbrados à ressurreição do Carnaval da Bahia.
E assim foi efetivamente, não podia se mais bem concebido, nem melhor executado que aquilo a que toda Bahia assistiu.
No dever de dar aos nossos leitores informações do que ele foi, desejaríamos dispor de suficiente espaço para tal; no entanto, ninguém nos leve a qualquer falta à conta de má vontade, pois não tendo sido publicado o nosso “Correio” durante o dia dos festejos carnavalescos. Hoje ser-nos-ia impossível dar notícia minuciosa dos três dias, em virtude da escassez de espaço com que lutamos.
INOCENTES EM PROGRESSO
Este clube, que até o ano passado (desde 1899 em que foi fundado) era nota única e seria do Carnaval, ainda este ano deixou bem patente o esforço e a dedicação de seus associados, que não dispondo de elevados recursos, com a modesta embora do pobre, apresentaram o correto préstito que tantos elogios despertou
O carro do estandarte, um bem idealizado primor artístico, era um conjunto, salientando-se a figura de Colombo, o glorioso navegador e o descobridor do continente americano
Após esse carro seguia-se o carro da Inocência e da Graça, representados por gentil senhorita e encantadora criança, que dominavam soberbo leão.
Via-se depois a alegoria à Liga da Educação Cívica.
Carros com sócios, lindamente enfeitados, o carro de Anphitrite, o de Dianna precediam o carro da Mãe deles (Inocentes) qual era uma boa velha, cansada já pelos anos e mais ainda pelas travessuras dos filhos, e que descuidado- somente se deixava enlear pela intérmina trama de uma renda de almofada.
E, depois desse, o carro do Pai (também deles) um bom velhote, gorducho e anafado, que nos filhos revia as glórias que Momo lhes reserva para os futuros festejos carnavalescos.
E vários adiante.
Pelo delírio das aclamações das aclamações, pelo entusiasmo do povo, já se sabe quem passam os sempre vitoriosos.
FANTOCHES
Ei-los, atletas invencíveis que voltam, depois de longa ausência, à procura dos louros imarcescíveis que seus adeptos nunca lhes souberam sonegar.
A começar pela charanga, vestida a moda de guerreiros escoceses, até a guarda de honra, à Mefistófeles, precedido tudo por dois arautos dos guerreiros de Bactre, nada mais deslumbrante, mais rico, mais executado!
E vinha então o luxuoso carro do estandarte, uma obra prima nacional, no qual se destacava Semirames, a vencedora de toda a Àsia, empunhando aquele glorioso estandarte.
Esse carro é guardado pela guarda nobre da poderosa rainha, vestida a capitães de Carlos Magno.
Seguia-se o carro de Mercúrio, com uma linda alegoria ao comercio_ Paz e trabalho, carro que era acompanhado por mosqueteiros da guarda de Henrique IV.
Outro carro, precedido de vários carros com sócios e cavalheiros, que produziu magnífico efeito foi o da Maternidade_ O ninho do amor uma belíssima concepção.
Carro com flores e aparecia o das quatro estações, representado por distintíssimas senhoritas; este carro era seguido pela Liga Cívica vibrante nota que a todos os corações baianos e tão cara.
Vem depois a Gondola de Lido, tripulada por gentis crianças, que pareciam entrar também, à moda dos de Veneza antiga, seus apaixonados madrugues, à luz doce da lua, sangrando o cristalino azul das mansas águas...
E terminava o luxuoso préstito uma linda alegoria a Orfeu, representado em um grande e bem confeccionado violoncelo donde se fazia original orquestra, composta de interessantes crianças, sob a regência de Orfeu, outra grácil criança.
Todos estes carros eram recebidos em todas as ruas do trajeto sob a verdadeira chuva de confete e serpentinas, e ao som dos mais entusiásticos_ Vivam os Fantoches!
Agora, descrito palidamente, este préstito, demos aos esforçados moços sinceros parabéns pelo gosto, pela riqueza com que se apresentaram no Carnaval de 1904.
E digamos também o que devemos do laureado e popularíssimo
CRUZ VERMELHA
A sua fanfarra lucidamente vestida a mosqueteiros de La Guarda, precede um riquíssimo carro, seguido do [?] de turcos.
Figuras marciais, trajando a Henrique IV, anunciam a aproximação do fascinante carro, em que se ostenta, garbosa e atraente, a figura do príncipe de Concé.
E vem após a Primavera, adorável sempre, recamada de flores que se espalham em bem idéia da promiscuidade, a derramar os seus perfumes inebriantes em torno do estandarte riquíssimo do laureado clube, corro este que era escoltado por uma guarda nobre, trajando pelúcia verde.
Em seguida, carros com sócios, linda e corretamente vestidos e ainda o Bergantim do amor, o reino de Juno, a Cavalaria de Aurora, o Loengrim, o triunfo e o Príncipe do Carnaval.
E foi esse o belo conjunto do magnífico préstito, que recebeu as mais fervorosas ovações.
OUTROS CLUBES
A rapaziada não de deixou ficar somente à espera dos três clubes acima e organizou vários outros, que andavam fazendo suas novidades pelas ruas da cidade.
Já lhes publicamos os nomes no sábado último e não os reproduziremos agora pela falta absoluta de espaço.
AS RUAS
Como dissemos, várias ruas da cidade estiveram enfeitadas a capricho, salientando-se as Portas do Carmo, a Rua Carlos Gomes, a ladeira de S. Bento e outras.
OS BAILES
Os bailes do Politeama, no sábado e domingo estiveram pouco concorridos sendo, porém, muito animados os de anteontem e ontem.
OS AVULSOS
Pobre, muito pobre de mascarados avulsos, que mereçam menção, foi o nosso Carnaval deste ano.
Francamente falando, não encontramos meia dúzia de mascarados espirituosos.
O imundo, o desengonçado, esses abundaram, infelizmente.
O africanismo não desapareceu... foi contudo muito resumido.
Ainda bem
(...)
Tema: CARNAVAL
Orgão de imprensa: GAZETA DO POVO
Data da notícia: 08-02-1902
Ano: Ano: 2
Número: nº 162
Dia da semana: Quinta-feira
Página: 2
Coluna: 4
Caderno:
Manchete: “AFRICANISMO” CARNAVALESCO
Texto:
O Dr. José Maria Tourinho, chefe de polícia, recomendou as delegados das 1ª e 2ª circunscrições que façam proibir terminantemente a exibição, nos três dias do próximo Carnaval, de clubes ou grupos de mascarados, representando trajes ou costumes africanos, e bem assim a dos que, aproveitando-se dos disfarces peculiares aos festejos carnavalescos, infrinjam os limites da decência e do respeito à moral pública.
Se observada, a resolução a que nos referimos é digna de sinceros encômios.
Tema: CASAMENTO
Orgão de imprensa: A ORDEM
Data da notícia: 15-08-1900
Ano:
Número: nº 63
Dia da semana: Quarta-feira
Página: 2
Coluna:
Caderno:
Manchete: AMOR... AMOR…
Texto:
Há dias, em S. Carlos do Pinhal, (S. Paulo) o preto Julio Leite, feio, beiçudo, e boçal raptou uma galante mocinha italiana Giovanina Modena, e pretendeu casar com ela.
A polícia, antes que Julio pudesse fazer mal, prendeu-o e depositou a menor.
Foram baldados todos os conselhos da autoridade, do pai e dos conhecidos de Giovanina que, em forma solene, declarou querer absolutamente casar-se “col bravo e simpático Giulio – il moro.”
Diante de tão fortes razões – a autoridade, com o prévio consentimento do pai de Giovanina, saltou da gaiola o meiro – que vai prender-se nos doces laços do hymeneu...
Bem diz o rifão: mais força tem o amor que...
Afirmam que Giovanina é moça bonita, elegante e tipo atraente; o noivo... é bem o inverso.
Tema: CASAMENTO
Orgão de imprensa: A COISA
Data da notícia: 21-11-1900
Ano: Ano: IV
Número: nº 162
Dia da semana: 3
Página: 1 e 2
Coluna:
Caderno:
Manchete: UM CASAMENTO
Texto:
Sendo vigário de uma freguesia um frade italiano, um lavrador levou-lhe um negro e uma negra para ele os fazer casar; e no ato do casamento, como o senhor dos escravos estivesse fora da igreja, o frade que não conhecia o noivo, lançou os olhos para todos os lados, e vendo um preto encostado a uma porta (era o padrinho do noivo) chamou-o e perguntou-lhe:
- Você quer casar com esta negra? Iô?...Disse o negro espantado.
- Sem, você mesmo, pois quem mais?
- Iô?...se iô poro casa co ele, iô qué sim senhô.
- Da seu mão direita.
- Mase antão...tornou o padrinho, como iô, há de...
- Cala a boca, gritou o frade, faze o que eu manda: dá seu mão direita.
- O padrinho, que pensava que tudo aquilo era das cerimônias, deu a mão, e o padre o fez casar com a negra.
Neste momento entra o senhor dos escravos com o noivo, dizendo:
- Eis aqui o noivo, Sr. vigário.
- Que noivo? Perguntou o frade: são dois casamentos?
- Não, senhor, é essa negra para se casar com este negro.
- Pois o noivo não é este outro?
- Este é o padrinho, e já é casado.
- Deveras?! tornou o frade meio fora de se; pois sabe o que mais? levou tudo o diabo; eu fiz casar o padrinho com a noiva.
- E agora como há de ser? perguntou o senhor.
- Vou consultar ao Sr. bispo.
Ao que acudiu o padrinho ansiando:
- E iô póro drumi cum muié?
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 29-07-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2277
Dia da semana: Quarta-feira
Página: 1
Coluna: 2
Caderno:
Manchete: ANTES PROVIDENCIAR
Texto:
Está nos abismado a credulidade com que o povo da Bahia tem corrido à casa do Sr. professor Faustino, à Rua da Lama, um curandeiro ou um sugestionador que aqui chegou de São Paulo.
Diariamente um número infinito de pessoas vai à Rua da Lama, onde espera encontrar a cura para suas enfermidades.
É um caso para que chamamos com muito interesse, a atenção e a solicitude do Sr. Dr. Pacifico Pereira, inspetor geral de higiene, a cujo cargo está a fiscalização de semelhante fato.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 30-07-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2278
Dia da semana: Quinta-feira
Página: 1
Coluna: 7
Caderno:
Manchete: CARTEIRA DA CASA
Texto:
O professor Faustino, carta de E. C..
A sua carta vai ficar reservada para quando formos à casa do professor Faustino. E de lá voltarmos convencidos de seu grande poder curador, se bem que muito nos mereça a palavra de E. C..
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 06-08-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2284
Dia da semana: Quinta-feira
Página: 1
Coluna: 7
Caderno:
Manchete: O PROFESSOR FAUSTINO UMA VISITA
Texto:
Ontem, à tarde, fomos à casa do Sr. professor Faustino Ribeiro Junior, à Rua da Lama, a fim de com a observação própria, podermos falar aos nossos leitores, de seu poder sugestivo, recebido pelo nosso povo como um poder curador.
Ao chegarmos à casa onde está hospedado o Sr. Faustino, logo da entrada fomos vendo um sem número de pessoas de todas as qualidades sociais, pelos corredores, pelas salas, aguardando a sua vez de conversarem ou aproximarem-se do Sr. Professor Faustino.
Com pequeno custo e só por uma diferença especial, conseguimos imediatamente travarmos com ele ligeira conversação a respeito do que se tem falado e se tem feito, aqui na Bahia, com a sua pessoa.
Ele referiu-se ao bom acolhimento que o povo, em massa, lhe tem proporcionado, procurando-o todas as horas, com a mesma ansiedade e sempre com grande número. Relatou-nos, calmamente, diversos acontecimentos de sua vida aqui na Bahia as simpatias de que está gozando.
Desta forma, voltamos convencidos de que as providências que possam ser tomadas pelo poder público, não devem ser violentas e com exagero que se anuncia.
Se há conveniência na intervenção do poder publico, no que cremos, essa deve ser feita refletida e bem pensadamente, porque os fatos podem dar lugar a acontecimentos outros inesperados.
A prudência, de acordo com o fiel cumprimento dos dispositivos de lei que se possam aplicar ao caso, não deve ser desprezada, e queremos crer que o poder público tomará as providências que forem precisas sem exorbitar ou errar, não dando lugar a que se sucedem cenas virgulares de parte a parte.
Aguardaremos os fatos, principalmente porque o Sr. Dr. inspetor de higiene já iniciou as suas providências, sobre as quais, por enquanto nos mantemos silenciosos.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 14-08-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2291
Dia da semana: Sexta-feira
Página: 1
Coluna: 2
Caderno:
Manchete: PROFESSOR FAUSTINO “HABEAS CORPUS” PREVENTIVO
Texto:
O Sr. professor Faustino Ribeiro Junior, ultimamente chegado à esta capital, vindo do Rio de Janeiro, requereu anteontem, perante o tribunal de apelação e revista ordem de habeas-corpus, preventivo ao seu favor.
Esse pedido devia ter sido relatado na sessão de hoje, pelo exmo. Sr. cons. Joaquim Antônio Souza Spinola.
O requerente alegou em sua petição que está ameaçado de constrangimento ilegal.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 17-08-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2292
Dia da semana: Segunda-feira
Página: 2
Coluna: 4
Caderno:
Manchete: PROFESSOR FAUSTINO (NAZARÉ)
Texto:
O professor Faustino recebeu daquela cidade a seguinte representação, assinada por cento e sessenta e duas pessoas, convidando-o para ir passar alguns dias ali:
“Ilmo.Sr.:- A população da cidade de Nazaré, representada pelo comércio e demais classes sociais que a constituem, dirigem-se a V. S. pedindo a vossa vinda a esta localidade, onde provisoriamente permanecendo, fareis a caridade da prestar aos que de vós necessitarem os auxílios providenciais do vosso meio de curar, verdadeiramente assombroso e que transpõe os limites do natural.
Estamos em uma época do domínio dos fatos reais, os quais, ainda mesmo inexplicáveis, atuam diretamente sobre o espírito publico, com maior força probante do que as mais bem desenvolvidas teorias das crenças especulativas.
Pouco importa que a ação benéfica do vosso miraculoso poder não obedeça a principio algum da terapêutica; que ela seja completamente independente das previsões dos diagnósticos, muitas vezes errôneos, pela semelhança dos sintomas em certos casos mórbidos; que para exercer o vosso privilegiado ministério não se muna de superabundante arsenal de medicamentos, específicos, apregoados em cartazes e avulsos, em quantitativos e dosagens, escrupulosamente rigorosos; que não cerquem os vossos créditos incontestáveis os incontestáveis os atestados científicos de notabilidades medicas pesadas de quantificativos lisonjeiros; nada disto importa, desde que cabe diretamente sob a ação dos sentidos, a evidência dos resultados práticos do vosso método misterioso de curar.
Para propaganda do vosso nome e dos prodígios que tendes obrado, basta o que se tem visto. Ante a lógica dos fatos, que não se [...] o espírito cede convicto, limitando-se a crer sem indagar a razão de sua crença e os motivos da credulidade pelos sucessos presenciados.
O povo de Nazaré converge para vós as suas vistas.
Um homem excepcional, como V. S., não se pertence, nem deve localizar os efeitos de sua missão humanitária a determinados lugares. Como nos centros populosos os lugares menos importantes são também perseguidos por moléstias e, com maioria de razão, porque lhe escasseiam todos estes meios, aconselhados pela ciência, como precaução dos males que têm por fator principal a falta de higiene.
Nesta cidade, se pelas condições tipográficas e clima benéfico só se dão casos esporádicos de enfermidades endêmicas, contudo muitos infelizes desiludidos das aplicações científicas sobre casos difíceis de certas moléstias, continuam a sofrer, sem esperança de salvação; enfim, a aspiração geral é ver-vos e participar da influencia positiva do vosso poder, que não se discute, sobre os organismos doentios.
Tais as razões que nos impulsionam a convidar-vos a vir a esta cidade, onde vos será garantida a mais franca, completa e cordial hospitalidade e onde a soma de afeições e desvelos pela sua pessoa será tanta, que se não vos satisfizer completamente, ao menos não vos fará arrepender-se do obsequio que nos dispensar.
Unidos neste sentido, confiamos que nos atendereis.
Seguem-se cento e sessenta assinaturas.
O professor prometeu passar alguns dias naquela cidade.
Professor Faustino
A própria linguagem do relatório apresentado ao exmo. Sr. Dr. secretário do interior pelo inspetor geral de Higiene, constitui uma prova forte da odiosidade ou anima versão alimentada contra o professor Faustino. A raiva é sempre má conselheira, e as suas inspirações, porque não se fundam na Justiça e na Verdade, caem ao menor sopro da razão.
{...}
Entremos em matéria substancial e, como um castelo de cartas soprado pelo vento, vamos fazer ruir por terra a argumentação sofistica do relatório.
Quando uma argumentação não tem por [...] a Verdade, ou não se funda na Razão, não encontra o mínimo apoio na Consciência. Por à Consciência como em uma lâmina fotográfica.
{...}
Não há [...] violação da lei que regula o exercício da medicina: a) porque os ramos que constituem ARTE MÉDICA são os descriminados nos artes. 155 e 157 do Cód. Penal. À inspetoria de Higiene falece competência para classificar delitos o que pertence a esfera do poder judiciário; b) porque o processo empregado pelo professor Faustino, não estando compreendido no curso medico oficial, não constitui, ipso fato, RAMO DE MEDICINA. E se outra for a interpretação, o referido[...] é incompleto; c) porque a doutrina relativa ao caso está firmada por [...] da Corte de Apelação do Rio de Janeiro e por sentenças dos Drs. Viveiros de Castro, juiz do Tribunal Civil e Criminal, Hypolito de Camargo, juiz da capital de São Paulo e José Soriano de Souza Filho da 1a vara de Campinas.
Se quisermos encarar a questão sob um ponto de vista mais elevado, diremos que no Brasil É LIVRE O EXERCÍCIO DA MEDICINA em qualquer dos seus ramos [Constituição Federal, art.72,24]. A arte de curar é, no verdadeiro sentido da palavra uma profissão liberal. A Constituição aboliu o privilegio de diplomas por ser uma coisa anti-democrática e incompatível com a República. Tal é o espírito da lei.
É ingenuidade invocar o Código Penal, que é uma lei ordinária; e no caso de conflito, entre uma lei ordinária e o pato constitucional, prevalece este.
Esta é a verdade jurídica. Vejamos a verdade filosófica.
O relatório, procurando ridicularizar o termo teosofia e magia, mostra ignorar a etimologia e significação desses termos.
{...}
Diz ainda o relatório: “Analisado, porém, o processo por ele empregado, reduz-se pura e simplesmente à sugestão, que sua completa ignorância do que mais rudimentar em medicina, e é conhecido dos espíritos medianamente cultos, não permite distinguir em suas diferentes formas e variadas aplicações.
É verdadeiramente extraordinàriamente que, sendo tão vulgar, tão profundamente conhecido o processo empregado pelo professor Faustino, dele não se faça uso para a cura rápida e econômica dos que sofrem!....
Não acham esquisito?
{...}
É monumental! Se a sugestão é um ato puramente votivo e que consiste no domínio de uma vontade por outra mais forte, na ascendência moral propriamente, como se constata a existência de uma força oculta e sobrenatural?
Ou é sugestão, e neste caso a força é pessoal [à vontade], ou trata-se de intervenção de um agente invisível (força oculta e sobrenatural) e não pode ser sugestão.
Encarada sob o ponto de vista social, o relatório é altamente ofensivo quando diz que o professor “está exercendo uma influencia perturbadora sobre a massa ignorante e crédula que constitui a grande maioria da população...”
Por ventura serão ignorantes e crédulos os médicos, os advogados, os engenheiros, os lentes das faculdades superiores, as famílias distintas que tem freqüentado o gabinete do professor Faustino?!
O relatório fala ainda em nome da higiene social, porque o professor, com as suas curas, “lança no solo os germes da superstição e do fanatismo”.
É um ataque indireto ao cristianismo que se funda nas revelações, nas curas pela fé, nas profecias.
{...}
Em nome da ordem pública, o relatório reclama a atenção dos poderes públicos, ainda ressentido das duras provações que sofreu recentemente por influencia de Antônio Conselheiro.
O professor Faustino não veio a começar a curar na Bahia.
Antes de estar aqui, já esteve no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas preferindo sempre as capitães. Se ele tivesse intenções pacificas, não procuraria os centros onde se acham as altas autoridades. Sem preocupação política, recebe em seu gabinete com igual diferença, os adeptos de todos os credos.
Não é revolucionário...
Este é o relatório da inspetoria geral ao Governo.
Examinemos o relatório da comissão de delegados de higiene à inspetoria geral.
{...}
Este relatório, que começa em forma descritiva.
Há, porém, um ponto muito importante que convém elucidar. A comissão assistiu à cura instantânea de dois casos de ataque e a declaração formal de uma senhora, de achar-se muito melhor. Além do testemunho dessas doentes que devem mandar ao professor as suas declarações por escrito, estavam no gabinete outras pessoas que testemunharam o fato. Será, igualmente, de suma importância, que todas as pessoas curadas, as que tiveram grandes melhoras, os mudos que soltaram a voz, os cegos, os paralíticos, os entrevados, todos enviem ao professor por escrito, atestados minuciosos explicativos do estado em que se achavam, da influencia que sentiram durante a ação curativa e do estado em que se acham atualmente. Serão documentos esmagadores.
No mesmo relatório há um outro ponto bem interessante; é aquela em que a ilustre comissão assevera que o professor recorre, empírica e desajeitadamente à Psicoterapia!
Sabem que quer dizer! – Psicologia? Ciência do espírito, ou de alma. Psicoterapia é – cura espiritual, ou mediunidade curadora seguindo Allan Kardec.
Ora muito bem; uma comissão oficial acaba de reconhecer o Espiritismo como sistema de curar!!.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 22-08-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2296
Dia da semana: Sábado
Página: 1
Coluna: 8
Caderno:
Manchete: O PROFESSOR FAUSTINO HABEAS-CORPUS NEGADO A CONCORRÊNCIA DO TRIBUNAL
Texto:
Parece estar universalizado, na Bahia, o interesse pelo que diz respeito o Sr. professor Faustino Ribeiro Junior, e a sessão de ontem, do Tribunal de Apelação e Revista desta capital, comprovou, perfeitamente, o que acabamos de dizer.
Por intermédio do Sr. Dr. João Paulo de Souza Vasconcellos, foi requerido ao Tribunal de Apelação, um habeas-corpus preventivo em favor do professor Faustino, alegando se “estar ameaçado de constrangimento ilegal por parte da inspetoria de higiene estadual”.
O resultado do procedimento começou a preocupar a atenção do publico, desde quando os jornais noticiaram, como nós o fizemos, o requerimento do professor Faustino, impetrando a garantia do habeas-corpus.
Anteontem, anunciou-se que esse pedido seria discutido na sessão de ontem, do nosso superior tribunal.
Foi este o bastante para que a sala de sessões desse tribunal ficar repleta de pessoas de todas as classes sociais: médicos, advogados, professores das faculdades, estudantes de direito e de medicina, funcionários públicos, etc. etc.
{...}
À sessão faltou apenas o conselheiro Americo Pinto Barreto, por achar-se enfermo.
___
Foi esta a informação enviada ao tribunal pelo Dr. Pacifico Pereira:
Exmo. Sr. presidente do tribunal de apelação:
Cumprindo a determinação do [...] tribunal de apelação, de que é v. ex. muito digno presidente, que manda esta inspetoria geral de higiene informou sobre o pedido de habeas-corpus requerido pelo bacharel João Paulo de Souza Vasconcellos, em favor do professor Faustino Ribeiro Junior, “que se diz ameaçado, de constrangimento ilegal, por parte do Dr. inspetor geral de higiene, que está impedindo ao paciente do exercício de sua profissão de curar enfermos”, tenho a honra de apresentar-vos as informações que dirigi ao exmo. Sr. Dr. secretario do interior e justiça deste estado, constantes dos documentos juntos, e peço permissão para ajuntar algumas ponderações, que justificam em desempenho do cargo que exerço.
Faustino Ribeiro Junior não sofre nem está ameaçado de sofrer coação ou violência alguma por ilegalidade ou abuso de poder, por parte desta inspetoria. Entregando-se ao exercício da profissão de curar enfermos, está infringindo a lei n. 112 de 14 de agosto de 1985, que só permite o exercício da arte de curar, em qualquer de seus ramos e por qualquer de suas formas, às pessoas que se mostrarem habilitadas, por titulo conferido pelas faculdades de medicina da República dos Estados Unidos do Brasil.
Faustino Ribeiro Junior não está em nenhum dos casos em que a lei permite o exercício da profissão, e incorre, portanto, nas penas do art. 48 1, da mesma lei, além das que cominam os art. 156,157, do código penal, por exercer medicina, em um de seus ramos sem estar habilitado segundo as leis e regulamentos e por inculcar curas de moléstias curáveis e incuráveis para fascinar e subjugar a credulidade pública.
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Faustino Ribeiro julga-se, porém, com o direito de exercer livremente a profissão medica, escudado pela Constituição da República, como se fosse possível interpretar o texto constitucional, admitindo essa liberdade ilimitada, que, na ordem social, conduziria os maiores absurdos e os mais graves perigos, entregando o exercício dessa delicada profissão, com todos os riscos e dificuldades que lhe são inerentes aos especuladores e ignorantes, que, sem consciência da grave responsabilidade que assumem, põem em jogo a saúde e a vida dos indivíduos e o bem estar da coletividade.
Não é certamente o magistrado, que recebe todos os dias os largos subsídios que lhes presta a medicina legal na administração da justiça, que poderá nivelar os profissionais instruídos e doutos com os ignorantes curandeiros e charlatães.
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A intervenção do estado da higiene social e em todas as questões de profilaxia sanitária é um dever tão indiscutível nas sociedades modernas que não há um país civilizado que deixe de prestar-lhe obediência e culto.
Se em toda a parte existe, portanto, uma legislação sobre a salubridade e a segurança do trabalho nas profissões e indústrias, em que a ação oficial intervém por medidas de repressão e vigilância, com todas as meticulosidades de previdência e do zelo que merece a saúde pública.... E se esta liberdade absoluta não é admissível ao exercício de qualquer profissão, muito menos seria quanto ao exercício de medicina.
{...}
Um aresto da corte de cassação de Paris, de 18 de julho de 1884, define perfeitamente o caso de Faustino Ribeiro:
“A interdição de exercer a medicina sem diploma, diz ele, é geral e absoluta...”
Especialmente o tratamento das moléstias por um fluido que, segundo a pretensão do operador, lhe fosse transmitida pelo olhar ou pela imposição das mãos, pode constituir o exercício ilegal da medicina. [Dalloz periodique, 1885, 1ª parte pág 42.].
Eis, exmo. Sr. presidente de tribunal de apelação, os motivos que obrigam a inspetoria de higiene a exigir do professor Faustino Ribeiro Junior o cumprimento da lei.
Sob a sua guarda está o alto interesse da saúde pública, e ao colendo tribunal não escapará a influencia dessa ação subversiva dos elementos de desorganização social, que germinam sempre nos povos menos cultos, e que ameaçam toda a ordem estabelecida no que temos de mais útil, como é a higiene pública, que se impõe à proteção e providência de todos os poderes do estado.
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Terminada a leitura.... iniciou a exposição de sua opinião contraria ao pedido de Habeas-corpus....
Leu em seu apoio uma decisão dada pelos tribunais de São Paulo, contra o mesmo professor Faustino, que quando lá esteve recorreu ao mesmo pedido de agora, no sentido de ser protegido sob o fundamento de liberdade profissional.
{...}
Posto a votos o requerimento do conselheiro Spinola foi esse aprovado, tendo sido negado o pedido de habeas-corpus preventivo.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 03-09-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2306
Dia da semana: Quinta-feira
Página: 1
Coluna: 6
Caderno:
Manchete: PROFESSOR FAUSTINO RIBEIRO
Texto:
Esteve ontem na secretaria da polícia onde foi interrogado, em segredo de justiça, pelo Dr. Casseano Lopes, o Sr. professor Faustino Ribeiro Junior.
Ouvimos que esse interrogatório fora solicitado pelo Dr. Mello Mattos, promotor público da 1º circunscrição criminal, afim do referido professor declarar quem é o autor do artigo publicado no Jornal de Notícias, de sábado último, sob o titulo O professor Faustino e a Lei.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 24-09-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2322
Dia da semana: Quinta-feira
Página: 1
Coluna: 6
Caderno:
Manchete: DENÚNCIA
Texto:
Pelo Dr. Arthur Mello Mattos, promotor público da 1ª circunscrição criminal, foi denunciado perante o Dr. juiz de direito da mesma circunscrição, como incurso na penalidade do art. 157 do código criminal o Sr. professor Faustino Ribeiro Junior.
O juiz de direito da referida circunscrição, Dr. Vicente Candido Ferreira Tourinho, julgou-se impedido para tomar conhecimento dessa denúncia, alegando ser amigo do professor Faustino.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 19-10-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2343
Dia da semana: Segunda-feira
Página: 1
Coluna: 6
Caderno:
Manchete: O PROFESSOR FAUSTINO E A INSPETORIA DE HIGIENE
Texto:
Com estranha anomalia, e sempre com crescente curiosidade, se vão desenrolando aqui os fatos que se propalam das fantásticas tentativas deste inesperado e já famoso curandeiro.
Simples impulsos de um espírito crente convicto de força, de um dom sobrenatural, apto a realizar intensas e rápidas sugestões, ou impávidas manipulações de magia ou do sortilégio: o que é certo é que, a crendice geral já se avoluma muito em torno do explorador.
{...}
Que importa realizem-se estas na ventura com que os candomblés festejam o santo do dia, ou em práticas charlatanescas com que profissionais conhecidos apregoam também a excelência de seus métodos de hipnose para todas as curas?
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Entre uns e outros, entre o atordoamento dos candomblés e os passes do hipnotismo, um lugar de honra não pode ser recusado ao professor Faustino, como elemento de transição, entre o fetichismo e o ocultismo.
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Mas, é inegável que o registro das curas do professor parece se avolumar; e a fama do Dr. Bota-mão se irradia além do estado.
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Não seria possível recusá-las, nem impedí-las em nosso meio, onde as superstições de todos os gêneros se alastram em todas as camadas sociais.
Certamente que estas irmanadas pela feitiçaria de muitos e pelas revelações de outros, agravadas pelas condições gerais de desânimo e decadência, pela nosologia de tamanhas misérias que perpassam como sombras aterradoras da magia negra, os fatores a exteriorizarem os fluídos que se desprendem das mãos do inconsciente taumaturgo, ou da catálise de seus espíritos invocados.
Não é, porém, sob tal ponto de vista abstrato ou doutrinário, que nos demovem essas considerações.
Nada temos a ver com a velha formula, que é a fé que cura; e os doentes que se julgam curados pelo professor, o foram por se mesmos, por auto sugestão, o que nos importa é o procedimento de nossas autoridades sanitárias, a revalidação de seus preceitos ou a derrocada de seu prestigio.
A principio tentou-se, sob a égide do Dr. Inspetor de Higiene, coibir estas práticas de magia com a vigência do código penal.
Foi até um arruído que ia fazendo do curandeiro, uma vítima para o aumento do proselitismo. O feitiço ia se virando contra o feiticeiro, e ao mesmo tempo que se anunciava a querela por crime de injuria contra o Dr. Inspetor de Higiene, houve quem afirmasse em grande número no sexo frágil, a inocuidade das mãos do curandeiro em relação às laminas afiadas de perigosos bisturis.
Agora, porém, o curandeiro penetra os umbrais do palácio da Vitória, encontra o próprio governador do Estado entre seus clientes, dóceis, eivados do mesmo fanatismo por seu estanho poder. É o próprio governador quem lhe vem suplicar o misericordioso milagre da cura para sobrinhos, queridos e afagados, tarados da surdo-mudez congênita.
Nesta tão peculiar exteriorização de preconceitos talvez esteja
Nada, portanto, mais curial e consentâneo que nossa primeira autoridade venha dar público testemunho de nosso fetichismo; é mesmo uma das feições estereotipadas da astrologia.
...E em suas feições estéticas, ainda não pode aperceber-se de onde lhe veio a singular fascinação de sua magia?
...Mas, como procederá agora o Dr. Inspetor de Higiene, delegado de confiança do governo do Estado, desde que o cenário do Bota-mão é nos salões do governador?...
Cada um aceita a medicina a seu talante, e onde falham as drogas, muitas vezes vencem as ervas, lá isto é verdade.
Mas certamente que isto não poderá servir de escusas à proclamada hombridade do Dr. Inspetor de Higiene que viu no curandeiro um perigo e um embuste, passível das infrações legais, e simultaneamente por ele ameaçado de processo crime.
Di-lo-á sua consciência, di-lo-ão seus nobres colegas, os foros de ciências, os fulgores do ensino, as suas vastas pesquisas de sábio e as intermináveis páginas de profilaxia bubônica ou amarelil, pela campanha porfiada pelas pulgas, muriçocas, contra os ratos e mosquitos, que diante do novo prestigio celebra o renome do curandeiro, só lhe cabe imediato dever pelo abandono da Inspetoria de Higiene.
Alias outro despertado poderá repetir que, a ostra continua presa ao rochedo.
Gandier.
Tema: CANDOMBLÉ, CURANDEIROS E FEITICEIROS
Orgão de imprensa: A BAÍA
Data da notícia: 12-11-1903
Ano: Ano: VIII
Número: nº: 2364
Dia da semana: Quinta-feira
Página: 1
Coluna: 4
Caderno:
Manchete: PROCESSO
Texto:
Perante o dr. preparador da 1º circunscrição criminal, principiou ontem a formação de culpa do processo crime a que está respondendo o professor Faustino Ribeiro Junior, sendo tomados os depoimentos de diversas testemunhas.